Paula Abreu
Alunos reprovados no exame prático de direção realizado esta manhã (14), em São Gonçalo, acusam o Departamento Estadual de Trânsito do Rio de Janeiro (Detran-RJ) de estar envolvido em "esquemas" entre seus fiscais e alguns instrutores de auto-escolas do município.
Quem evita participar da contravenção, acaba sendo prejudicado. As auto-escolas que não querem se envolver deixam de ter aprovados por exame, cerca de 5% dos alunos que estavariam bem preparados, teriam feito a prova corretamente e injustamente tiveram pontos perdidos para que os alunos que "pagam" pela carteira sejam aprovados.
Em entrevista, instrutores que pedem sigilo sobre sua identidade e que se negam a participar do esquema, disseram que não apenas sua imagem como profissionais que estão de fato preocupados com a formação dos futuros condutores é denegrida, mas esse tipo de má conduta coloca em risco à todos, porque os alunos aprovados de maneira ilícita, na maioria dos casos, não têm a menor condição de dirigir com segurança e prudência. Ao contrário, tornam-se condutores perigosos, despreocupados com as leis de trânsito vigentes, apesar de possuirem a Cateira Nacional de Habilitação válida em todo território nacional.
Não é a primeira vez que esse tipo de denúncia faz parte da história das escolas de condutores e do Detran. No início deste ano, por exemplo, a Corregedoria do Detran puniu fiscais e instrutores acusados de participarem do esquema na área de exame da Ilha do Fundão, e ainda este mês na setxa-feira (7) um fiscal acusou um instrutor por tentativa de suborno.
É fácil imaginar quantas irregularidades acontecem nesse sentido que vão além simplesmente das compras de carteiras de habilitação, mas que envolvem um verdadeiro cartel e o abuso de autoridade, que ficam longe dos noticiários e longe, inclusive, da percepção de alunos que sequer sabem que estão sendo passados para trás por conta da influência e da ganância por parte de fiscais que deveriam fazer seu papel com honestidade e encargo.
Seja pela vulnerabilidade do sistema e pelo descaso das autoridades, seja pela falta de consciência do cidadão em relação à responsabilidade de ser um bom motorista, direta ou indiretamente tem influencia nas estatísticas de acidentes de trânsito que crescem a cada ano no país.
Um estudo feito pela Organização Mundial da Saúde (OMS) mostra que o Brasil tem o quinto maior número de mortes no trânsito de todo o mundo. A OMS utilizou dados de 2007, com o objetivo de comparar todos os países e revelou que naquele ano, houve 35,1 mil mortes causadas por desastres com automóveis no Brasil.
Especialistas acreditam que esse número pode ser bem maior, porque só são contabilizadas as mortes que ocorrem nos locais dos acidentes. Em termos absolutos, o número brasileiro só é inferior ao de outros quatro países: Índia (105,7 mil), China (96,6 mil), Estados Unidos (42,6 mil) e Rússia (35,9 mil).
Este domingo (15) às 11h, no Rio de Janeiro, acontecerá um ato inter-religioso para marcar o Dia Mundial em Memória das Vítimas do Trânsito. A celebração, organizada pela Arquidiocese e, ironicamente pelo Detran, será realizada no Forte de Copacabana e reunirá líderes de várias religiões.
O dia Mundial em Memória das Vítimas de Trânsito ainda é uma mobilização pequena e desde 2005, quando a assembleia geral das Nações Unidas aprovou uma resolução para que todos os países definissem o terceiro domingo do mês de novembro como o dia dedicado à memória das vítimas da violência sobre rodas, as manifestações são quase imperceptíveis.
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